Atropelamento De Militante Do Mst Expõe Omissão Do Estado E Escalada De ÓDio Contra Os Sem-terra
- Categoria: POLÍTICA
- Publicação: 27/05/2025 08:21

O atropelamento fatal do militante sem-terra Gideone Menezes, de 68 anos, durante uma marcha pacífica do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reacendeu o alerta sobre a crescente violência contra lutadores populares no Brasil. Mais do que uma tragédia isolada, o caso é apontado por dirigentes do movimento como consequência direta da negligência histórica do Estado com a reforma agrária e do avanço de um discurso de ódio alimentado por setores do agronegócio e pela extrema direita.
Gideone participava de uma mobilização com cerca de 3 mil pessoas nas ruas do Recife, em maio, quando foi atingido por um carro conduzido por um motorista que, segundo testemunhas, acelerou propositalmente contra a marcha. “Alguns conseguiram se esquivar, sair, mas o seu Gideone foi atingido e arrastado por mais de cinco metros. Depois o carro passou por cima dele”, relata Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST. O militante ficou internado em estado grave por mais de um mês e morreu na última sexta-feira (23).
Além de Gideone, Samuel Scarponi, dirigente do MST em Pernambuco, também foi atingido e sofreu ferimentos no braço. O motorista responsável está preso preventivamente, mas sua identidade segue em sigilo, e a polícia, até o momento, não reconheceu motivação política no crime — decisão que gera revolta entre os movimentos sociais.
Para Gilmar Mauro, não se trata apenas de um caso de violência individual, mas de um símbolo trágico de um país que abandonou suas responsabilidades sociais e cedeu ao discurso de criminalização da luta por terra.
“Infelizmente, a demora na desapropriação e a inoperância dos órgãos responsáveis impediram que seu Gideone fosse assentado, e por isso ocorreu essa tragédia. É uma morte que também recai sobre o Estado brasileiro,” afirma Mauro.
Cenário de violência política e demonização dos movimentos sociais
O dirigente afirma que o ataque faz parte de um cenário mais amplo de hostilidade contra os pobres e os movimentos populares no Brasil. “Estamos vivendo as consequências de uma ideologia de violência que foi semeada nos últimos anos. Setores do agronegócio, aliados ao bolsonarismo, conseguiram criar um clima de ódio contra os sem-terra, contra os pobres, contra os que lutam por direitos,” denuncia.
Para o MST, a morte de Gideone não pode ser compreendida fora desse contexto de criminalização sistemática da reforma agrária, intensificada durante o governo Bolsonaro, quando houve um esvaziamento deliberado das políticas públicas voltadas para a redistribuição de terras e a agricultura familiar.
“Conseguiram gerar um consenso nocivo na sociedade, construído por campanhas massivas nos meios de comunicação e pela narrativa de que quem ocupa terra é bandido,” lamenta Mauro.
Tragédia ocorre em meio a retomada da pauta agrária
O assassinato do militante ocorre justamente no momento em que o MST promove sua Jornada de Lutas pela Reforma Agrária, conhecida como Abril Vermelho — tradicional série de mobilizações que marcam o massacre de Eldorado do Carajás (PA), em 1996, e colocam em pauta as reivindicações por terra e dignidade no campo.
Gilmar Mauro ressalta que, em um país assolado por inflação de alimentos e colapso ambiental, a reforma agrária deveria ser uma prioridade nacional.
“A reforma agrária que defendemos pode enfrentar questões estruturais: combate à fome, produção sustentável, proteção ambiental. Mas falta vontade política. O governo precisa entender que distribuir terra é distribuir vida, e não caos, como querem fazer crer os setores conservadores,” defende.
Pedido de justiça e memória
O MST promete seguir mobilizado e prestar homenagens a Gideone Menezes, que, mesmo aos 68 anos, lutava diariamente pela terra e por um futuro melhor para os trabalhadores rurais. Para o movimento, a memória de Gideone será transformada em ação concreta — tanto na denúncia da violência quanto na exigência de avanços reais na pauta agrária.
Enquanto isso, a pergunta que ecoa nas ruas e nos acampamentos é a mesma: quantos mais precisarão morrer até que o Brasil enfrente de frente sua dívida com a terra e com os que dela vivem?
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