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Tropas israelenses usam palestinos como escudos humanos em Gaza e na Cisjordânia, revela investigação

  • Categoria: INTERNACIONAL
  • Publicação: 26/05/2025 07:42

Uma investigação da agência de notícias Associated Press (AP), divulgada no sábado (24), expôs o uso sistemático de civis palestinos como escudos humanos por tropas israelenses durante operações militares na Faixa de Gaza e na Cisjordânia ocupada. A prática, proibida tanto pela Suprema Corte de Israel desde 2005 quanto pelo Direito Internacional Humanitário, consiste em forçar palestinos capturados a entrarem à frente de soldados em casas, prédios e túneis, a fim de detectar armadilhas, explosivos ou a presença de militantes armados.

A reportagem da AP ouviu dois soldados israelenses e sete civis palestinos que relataram ter sido utilizados como escudos. Entre os entrevistados está Ayman Abu Hamadan, de 36 anos, que passou 17 dias sob custódia das forças israelenses. Segundo seu depoimento, ele era mantido com os olhos vendados e amarrado, e só era solto temporariamente quando era designado para “missões especiais”. Depois de ser usado por uma unidade, era transferido para outra. Hamadan afirma que era ameaçado de morte caso se recusasse a cumprir as ordens.

Entre os militares ouvidos, um oficial das Forças de Defesa de Israel (IDF), sob condição de anonimato, revelou que a prática tornou-se rotineira após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. "Em certo momento, cada pelotão tinha seu escudo", disse o militar, reforçando que as ordens partiam da hierarquia superior.

A terminologia usada pelos soldados também chama atenção: civis palestinos capturados para esse fim são chamados informalmente de “mosquitos” ou “vespas”. Os apelidos desumanizadores refletem a banalização da prática dentro das tropas.

O grupo Breaking the Silence, formado por ex-militares israelenses que denunciam abusos cometidos pelas IDF, confirma a gravidade da situação. “Não se trata de casos isolados. Esses relatos indicam uma falência sistêmica e um colapso moral aterrorizante”, afirmou o diretor-executivo da organização, Nadav Weiman. Ele criticou a hipocrisia do Estado de Israel: “O país condena — com razão — o uso de civis como escudos humanos pelo Hamas, mas nossos próprios soldados relatam fazer o mesmo.”

Em resposta à AP, as Forças de Defesa de Israel afirmaram que a prática é expressamente proibida por suas diretrizes internas, e que a coerção de civis em operações militares viola seus regulamentos. A instituição também declarou que alguns casos estão sob investigação. No entanto, questionada sobre o alcance da prática e a origem das ordens, a IDF não forneceu esclarecimentos.

A denúncia amplia o debate internacional sobre possíveis crimes de guerra cometidos durante o atual conflito. O uso de escudos humanos é classificado como violação grave pelas Convenções de Genebra, especialmente quando praticado de forma sistemática ou institucionalizada.

Enquanto a guerra segue sem solução à vista, com alto número de vítimas civis e denúncias de abusos de ambos os lados, relatos como os reunidos pela AP alimentam preocupações da comunidade internacional sobre o respeito aos direitos humanos e o futuro do processo de responsabilização por crimes cometidos durante o conflito.